Por que professor?
Lembro-me da primeira vez que entrei
na minha sala de aula, sentia-me realizada pelos duros anos de faculdade.
Quando olhei para aquela plateia composta por trinta e sete alunos da oitava série.
Quantas carinhas estranhas e assustadas.
Por instantes, sentia-me num imenso
palco, precisava atrair os espectadores, sabia que eram críticos que me
acompanhariam por quase um ano. Foi confuso, mas ninguém notou a desordem.
Quando percebi já estávamos envolvidos. Significava que havia passado no teste.
Todo ano, estou em palcos
diferentes, com públicos desconhecidos, porém com muito mais experiência para
trocar.
Nós professores, de fato, somos artistas, pois estamos sozinhos,
envolvidos num cenário, cuja plateia será a mesma no decorrer de um ano.
O cruel é quando a sociedade não
compreende o nosso verdadeiro valor e faz críticas, por que não dizer, doídas?
Tudo começa com as próprias normas
que nos impõe: professor deve ser... professor tem que conhecer... professor
deve resolver... professor tem que fazer... Por que tudo é professor? São
tantos pesquisadores procurando formas de nos direcionar, entretanto nenhum deles conseguiu modificar os pensamentos daqueles que nos criticam.
Nunca esqueci uma reportagem de
veiculação nacional, relatava-se a triste cena que vive o professor. Uma frase
chocou: “professores são gordos, estressados e mal-arrumados”. Por que não
dizer que são profissionais, ganham mal, por isso estão desmotivados? Será que
estes artistas não terão valor? Ou serão ainda criticados por qualquer um que
passou e passa pelas mãos deles?
Na ocasião em que lia um jornal de
concursos e empregos, um concurso público me chamou atenção. Comparava os salários
de outros profissionais. Enquanto um psicólogo teria a renda de 29,00 reais por
hora, o professor 9,00 reais por hora/aula. Isso, de fato, frustrou-me, pois na
maioria das vezes, somos mais psicólogos que docentes e temos que atender uma
complexidade de situações sem ter formação.
Como profissional, atuo cumprindo minha
atividade com amor a minha arte, pois sabia que o curso de docência não me
levaria às altas contas bancárias, acredito que meus colegas de profissão
também, por isso ainda existe professor.
É certo que devemos mostrar que
somos verdadeiros artistas mesmo que a plateia, às vezes, “jogue tomates”, pois
temos a consciência de que muitos dos nossos espectadores nos agradecerão
futuramente, e é este o privilégio.
Tenhamos paciência, acreditando que
dias melhores virão, e que nossa audiência será levada àqueles que mesmo sem voz
ou força política, acreditam em nosso trabalho e esperam nele um futuro de
melhor expectativa.
Ariana Rodrigues Quintiliano
Nenhum comentário:
Postar um comentário